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Moralidade pessoal e ética nos negócios


Laura Nash Especialista americana
 critica falta de ética nas empresas.




Não existe a ética nos negócios. Existe apenas um tipo — você tem de seguir os padrões mais altos.

 (Marvin Bower, ex-sóciõ-gerente da MacKinsey & Co. Citado em “Wisdom from the Giants of Business” de Walter Guzzardi, Revista Fortune, 3 de julho 1989, p. 81.)


Depois de oito anos da sua primeira visita à PUC, Laura Nash, ex-professora de Harvard e sócio-fundadora da Piper Cover Fund Asset Management, deu uma palestra no dia 30 de março sobre ética empresarial. A discussão foi em torno da crise econômica mundial, desde o seu histórico até possíveis soluções. Laura, que também é autora do livro Just Enough, foi convidada pelo departamento de Filosofia da Universidade, que teve o patrocínio do Consulado Americano.

 Laura indicou três fatores que devem ser levados em conta para evitar novos erros no mundo financeiro. Primeiro, é entender o que a ética diz da crise, segundo, o que a crise diz sobre a ética e, terceiro, o que ambas dizem sobre a responsabilidade social nas empresas. “Esta não é a hora para ganância”, diz, apontando a avidez pelo lucro como a principal razão para o início da crise.




Embora muitos líderes corporativos defendam a necessidade de altos padrões éticos nos negócios, tem sido muito difícil encontrar o vocabulário e os termos certos para descrever a dimensão moral da administração empresarial. Como indica a afirmação de Bowers, termo ética nos negócios pode ser repulsivo. Para ele e para outros, isso sugere a ideia moral de aceitar um padrão duplo —uma ética para a vida particular e outra para as decisões dos negócios. Para outros, a ética nos negócios sugere uma jocosa contradição de termos.
Assim, embora muitos homens de destaque expressem a necessidade de padrões morais fortes nos negócios, até agora têm havido poucas harmonizações verbais entre administração e moralidade. O que queremos dizer com os termos integridade e padrões mais altos de conduta? Esses conceitos, que em geral são óbvios, realmente merecem pouco destaque quando os executivos precisam confrontar-se diariamente com as numerosas áreas cinzentas do comportamento empresarial? Seria suficiente destacar o que uma pessoa não deve fazer e deixar o resto por conta do instinto pessoal?
É óbvio que não, pois, os executivos enfrentam regularmente decisões que não têm demarcações óbvias entre o certo e o errado. A conduta moral nos negócios merece a mesma atenção sistemática que qualquer outro aspecto da administração. Até aqui, porém, tem havido pouca ajuda nessa área. A análise filosófica e teológica formal não encontrou formas de traduzir as preocupações da alma para a linguagem do livro de bolso.
Essa falha não surpreende. Ambos os campos vêm desprezando a discussão dos negócios há milhares de anos. A Bíblia adverte sobre servir aos bens materiais. Até Aristóteles, há mais de dois mil anos, considerou, a princípio, a pessoa de negócios como um possível objeto ao seu trabalho sobre ética aplicada, mas depois rejeitou totalmente a ideia, com base no fato de que os propósitos e a mentalidade do comerciante ou mecânico vulgar não eram suficientemente bem- intencionados para merecerem uma análise moral séria. (Eudemian Ethics I.IV.2.)
Quanto a nossas respostas instintivas, a ideia de uma vida de integridade nos negócios simplesmente não faz sentido para a maioria das pessoas. Em nossa cultura, é fácil imaginar um doutor heroico arriscando sua própria saúde para tratar dos doentes. Ou um heroico advogado defendendo, à custa de sua própria carreira, o direito de um cliente pouco popular ter um julgamento justo. Nem é forçada a imagem de um professor conduzindo a sua busca da verdade, arriscando-se a ser ridicularizado.
É muito mais difícil idealizar um executivo estereotipado ganhando dinheiro nobremente. E, quando médicos ou professores começam a revelar motivações financeiras, eles são firmemente submetidos ao mesmo cinismo social. Philip Caldwell, ex-presidente da Ford Motor Company, comentava essa visão definitivamente suspeita da moralidade nos negócios quando dizia: “Muita gente pensa que, se você é uma pessoa de negócios, deve automaticamente ser gananciosa e desonesta. Eu acho essa visão repugnante”.
O campo da ciência da administração, embora não tão abertamente cínico sobre a moralidade executiva quanto à mídia, tem, no entanto, exibido uma carência semelhante de clareza intelectual em relação à aplicação específica dos padrões éticos na solução dos problemas normais nos negócios. Os valores pessoais são reconhecidos como importantes, mas como se traduz em substância dos sistemas impessoais de administração? A maioria das declarações de objetivos empresariais é, em sua natureza, funcional e mais do que ética. Ducker, por exemplo, tem descrito o objetivo geral da empresa como sendo “a utilização produtiva de recursos que geram riquezas” (Peter F. Drucker. Management. (New York: Harper’s Coliege Press, 1977), p. 62. Outros assumem que “a produção de eficiência cada vez maior” é o objetivo geral da empresa, ao menos em um sistema capitalista democrático. Muitos outros analistas dos negócios descrevem os componentes essenciais da empresa em termos abertamente funcionais ou em termos de “excelência”, sem nunca definir o objetivo geral que se visa com tais atividades.
Ver, por exemplo, Tom Peters e Robert Waterman, In Search of Excellence (New York: Harper & Row, 1981), que está estruturado sobre os sete componentes “S” de McKinsey para a empresa e nos oito atributos da excelência. Kenneth Andrews, em seu texto clássico de administração sobre estratégia corporativa, começa sua análise com uma definição não da empresa, mas da administração, que é claramente funcional, porém, não claramente social: “A administração pode ser definida como a direção da conduta bem-informada, eficiente, planejada e objetiva da atividade organizada complexa”. (The Concept of Corporate Strategy. ed. rev.[Homewood, IL: Richard D. Irwin, 1980], p. 2.). Anteriormente, Chester Barnard (The Functions of the Executive [Cambridge MÁ: Harvard University Press, 1938]) e Philip Selznick (Leadership in Administration: A Sociological Interpretation. [Berkeley: University of California Press, 1984]) já haviam alterado a definição de administração da definição impessoal de “uma delegação do proprietário” para um contexto mais social. O que eles não fizeram, porém, foi descrever o propósito, mas sim a função. Ver, por exemplo, Barnard, p. 18. “Ela [a responsabilidade da administração] é a responsabilidade pela contribuição. É a função, e não o poder, que deve ser o critério de distinção e o princípio da organização.
Tais afirmativas dificilmente se constituem em farol para orientar a integridade pessoal do administrador pelas águas perigosas do materialismo e da eficiência. Sem uma ampla compreensão de como os valores particulares e os objetivos institucionais se relacionam ou deixam de se relacionar, a alegação de que a ética empresarial é simplesmente uma questão de boa consciência é bastante inútil e mesmo enganosa. Por outro lado, a natureza moral dos negócios não é adequadamente abordada pelas simples descrições das funções organizacionais ou econômicas. Aprendemos que a empresa é um conceito legal, definida como uma entidade legal, mas, na prática, ela é também uma entidade social. Ela é uma organização de pessoas em que as ações de uns têm efeito sobre o bem-estar e os direitos dos outros.
Alguns têm argumentado persuasivamente que a natureza de um indivíduo é também essencialmente social, se não por outro motivo, pelo fato de que a própria vida da pessoa é o produto da união de duas pessoas. Ver, por exemplo, F. H. Bradley. “My Station and Its Duty”, Ethical Studies. 2 ed. (Oxford: Clarendon Press, 1927). O ponto que quero destacar aqui é que, enquanto os indivíduos parecem ter uma mistura de privacidade, separatismo e sociabilidade, nada em uma empresa escapa ao contexto social.

SUBINDO NA CURVA DO APRENDIZADO MORAL

Embora seja difícil criar uma ponte entre a discussão tradicional da consciência particular e a discussão da ciência da administração, a jornada deve ser empreendida. A moralidade é um fato inevitável da vida gerencial, cujos problemas devem ser analisados de forma sistemática.
Quase toda decisão e atividade empresarial têm um aspecto ou uma relevância moral inerente. Muitos deles são variações sobre a qualidade da confiança. Uma transação financeira, por exemplo, não pode ser feita sem o estabelecimento de diversos mecanismos de confiança: deve-se confiar na manutenção da palavra dos negociadores, os preços cotados devem ter alguma relação com os preços cobrados; deve-se confiar nas controladoras para manter registros precisos daquilo que é feito, por quem e por quanto. As decisões de produto exigem que pessoas façam avaliações de qualidade e eficácia, que dependem de sua honestidade e precisão. Sistemas complexos de serviços e transações exigem trabalho de equipe eficiente, que não pode ser obtido sem cooperação, o que, por sua vez, não pode ser conseguido, mesmo quando imposto por leis, sem que haja confiança e respeito mútuo entre os parceiros. Se um empregado não vê cuidado da alta administração da empresa por ele (ou ela), é improvável que ele (ou ela) se preocupe em negociar meticulosamente em nome daquela administração. Se não se pode confiar nas outras unidades da empresa para contar a verdade dos fatos e receber somente os créditos merecidos, então por que insistir em padrões pessoais de honestidade, a menos que levem a uma retribuição demonstrável?
Amitai Etzioni expressou o aspecto fundamentalmente moral dos negócios de forma eloquente:
A confiança, obviamente, é fundamental para a economia, e não meramente para as relações sociais, uma vez que, sem ela, a moeda não será usada, poupança não faz sentido e os custos das transações sobem precipitadamente; em resumo, é difícil conceber uma economia moderna sem um forte elemento de confiança que a permeie por completo. Amitai Etzioni. The Moral Dirnension: Toward a New Economics. (New York: Free Press, 1988), p. 8.

Avançando além da ética da confiança, da qual as atividades gerenciais dependem, pode-se ver que os administradores também tomam decisões que produzem resultados morais. A maioria das atividades empresariais tem impacto sobre outras pessoas e está, portanto, inerentemente sujeita a questões sobre o bem ou mal que, em última análise, faz.
Sabemos que tais questões, longe de serem uma tendência, são pelo menos tão antigas quanto os sumerianos, que viveram há cinco mil anos. A própria escrita, uma das invenções mais importantes da história da humanidade, foi desenvolvida em parte como resposta a um problema de ética nos negócios. As longas distâncias e os perigos das grandes rotas comerciais ao longo do Rio Tigre e Eufrates criaram novas dificuldades para garantir o pagamento e a entrega dos bens vendidos. Os sumerianos desenvolveram as primeiras formas rudimentares de escrita para registrar atividades comerciais em tabuletas, para que as transações distantes pudessem ser realizadas em um ambiente de confiança e responsabilidade mútua. Depois que esse ambiente surgiu, as empresas comerciais e o comércio explodiram. As tabuletas de argila possibilitaram a taxação, o inventário e as transações, formando a base econômica e institucional da primeira grande civilização ocidental.
Embora o impacto histórico da “ética nos negócios” seja, sem dúvida, consideravelmente menor do que aquele da invenção da escrita, a atual tendência da ética nos negócios testemunha o fato de que as pessoas ainda são atormentadas pelos aspectos morais na vida dos negócios e ainda estão procurando respostas adequadas para os desafios práticos que esses problemas geram. Como ilustra o exemplo dos sumérios, não existem divisões claras entre os aspectos morais, econômicos e sociais dos negócios. A ética nos negócios tende a abranger todas as três áreas do pensamento crítico. Vai-se, sem restrição, dos sistemas macroeconômicos do capitalismo para as questões do comportamento organizacional da administração e para os valores pessoais e particulares que são muito caros aos indivíduos.
Além disso, apesar do ceticismo muitas vezes justificado, há razões para assumir que esses valores e resultados podem ser submetidos a uma análise coerente, pelo simples fato de que eles encontram expressão coerente nas ações diárias. Mesmo sem o auxílio de Aristóteles, o pessoal das empresas consegue atingir resultados éticos. As obrigações contratuais são cumpridas e controles precisos são estabelecidos a cada dia. Muitos produtos satisfazem o cliente. Muitos locais de trabalho fornecem aos empregados salário justo e um senso legítimo de valorização. E existem muitos líderes de negócios, do lendário Thomas Watson da TBM a Don Seibert da J. C. Penney, cujo compromisso com uma carreira nos negócios foi marcado por uma integridade pessoal excepcional, pelo sucesso da empresa e pelo serviço prestado ao público em geral.

RESPOSTAS TRADICIONAIS PARA A RESPONSABILIDADE ÉTICA NOS NEGÓCIOS

Mas como o gerente com boa consciência aborda a ética nos negócios hoje em dia? Como surgem as heróicas assertivas de moralidade nos negócios, com a resolução da crise do Tylenol na Johnson & Johnson?

Resposta 1. Confiar no Instinto

Existem muitas formas dos executivos responderem à infiltração das questões morais no trabalho. Uma é confiar em seu “instinto” e não tentar articular o problema mais ainda. Em muitas questões éticas, tal resposta é mais ou menos tão eficiente quanto uma aspirina no caso de um acidente de carro. O instinto sozinho dificilmente vence as complexidades morais dos PACs, (PAC: Political Action Comittee, forma legal nos EUA, pela qual grupos empresariais dão apoio financeiro a partidos políticos. [N.T.]) dos testes aleatórios de uso de drogas, das defasagens salariais, ou da responsabilidade pelo meio ambiente.
O instinto também não dá ao executivo uma expressão vocal adequada para a liderança ética em uma grande organização. O instinto de todos não se baseia no mesmo conjunto de valores e opções. O desconto empresarial de preço que uma pessoa dá a um cliente favorecido pode ser a definição que outra pessoa tem para um suborno. O executivo A pode repudiar a sugestão de que a empresa use informações ilegalmente conseguidas, de propriedade de um concorrente, enquanto o executivo B pode achar que se trata simplesmente de obter a proverbial vantagem competitiva. Apelar meramente para o instinto como orientação do modo como uma empresa faz negócios não vai garantir a unanimidade, nem mesmo a sensibilidade, quando as opções entre a integridade e o lucro fácil tornam-se difíceis.
O instinto também tende a perder seu poder à medida que um indivíduo integra-se ao sistema de valores de uma organização. A história tem mostrado que os indivíduos podem fazer opções bastante diferentes quando agem juntos, como um grupo. Alguns dos indivíduos mais admirados de Wall Street comercializaram informações internas, prejudicando as contas de seus clientes; executivos que presumivelmente eram bons pais de família falsificaram sistematicamente relatórios de acidentes em diversas usinas nucleares em toda a América; executivos de uma grande empresa processadora de alimentos que frequentavam igrejas não apenas deixaram de investigar indicações claras de que seu “suco de maçã” concentrado era 100% químico, como mais tarde enviaram caixas do coquetel químico para Porto Rico, tentando fugir do controle da FDA (Food & Drug Administration — órgão do governo norte-americano que controla e autoriza a produção e venda de alimentos e produtos farmacêuticos. [N.T.]) e vender o produto apesar de tudo.
A falibilidade é uma condição humana à qual os executivos são vulneráveis como todo o mundo. Como observa Kenneth Andrews em seu prefácio no livro Ethics in Practice, a ética nos negócios é “um problema que alcança não apenas alguns criminosos exilados ou velhacos em formação, mas também todo um exército de pessoas aparentemente boas, que levam vidas privadas exemplares, ao mesmo tempo em que escondem informações sobre produtos perigosos ou letais, ou falsificam registros de custos”.(Kenneth R. Andrews. ed. Ethics in Practice: Managing the Moral Corporation. (Boston: Harvard Business School Press, 1989), p. 1.) Mesmo que não houvesse outro motivo além da fragilidade do julgamento humano — especialmente quando confrontado com a perspectiva de ganhar rios de dinheiro —, a abordagem pelo instinto não é uma resposta moral adequada para os dilemas éticos e para as responsabilidades da liderança nos negócios.

Resposta 2. Definindo os “Nãos”

Uma segunda abordagem para os assuntos morais nos negócios é a técnica dos mandamentos. As atividades empresariais estão sujeitas a uma série de “o que não fazer” sobre tópicos específicos, com freqüência na forma de legislação ou código de acatamento ético: Não ter conflito de interesses; Não mentir; Ser honesto e objetivo ao manter os registros; Evitar o envenenamento de seu cliente; Não poluir o meio ambiente; Não oprimir as minorias; Não molestar as mulheres; Não vender a empresa ao especulador imediatista; Não colocar a mão na caixa registradora.
Tais princípios são companheiros conhecidos pela maioria das declarações de política corporativa. Contêm orientações importantes para o comportamento extensivo ao grupo, mas são limitados por seu próprio pontualismo. Por exemplo, uma orientação rígida que proíba os compradores da empresa de aceitarem presentes de valor acima de US$25 pode evitar o suborno desenfreado, mas não garante que um comprador exerça seu julgamento de compra com prudência em vez de preconceito. Pode não haver dinheiro por debaixo dos panos, e mesmo assim um comprador ainda pode ser seduzido por toda sorte de apelos e incentivos de vendas para comprar um produto ou serviço sem uma consideração honesta e responsável de sua equação final para a empresa. Além disso, nenhuma política de conflito de interesses ou de manutenção de registros evitará que o mesmo executivo disfarce as informações para fazer com que suas decisões de compra pareçam melhores do que realmente são.
O executivo que desenvolve uma série de “nãos” específicos como forma de liderança ética dentro de uma empresa logo descobre que há sempre alguém que pode encontrar um meio de contornar as regras, ou que se desenvolveram condições de mercado que não foram previstas pelas regras. Isso não significa que as regras não sejam importantes, mas somente que, por conta própria, elas não abordam toda a gama de problemas éticos com os quais um executivo se confronta. Como se diz, quando o assunto é integridade pessoal, a lei é melhor interpretada como piso do que como teto.

Resposta 3. Articular Explicitamente uma Filosofia de Negócios

Um terceiro modo de abordar as questões morais dos negócios é estabelecer um conjunto amplo e explícito de padrões éticos — e não apenas proibições — que digam respeito aos objetivos da empresa e aos meios pelos quais os indivíduos devem executá-los. Aqui, podemos aprender muito com o líder empresarial japonês que considera a publicação de uma “filosofia pessoal de negócios” requisito essencial do primeiro escalão da empresa. Essas declarações não tratam das preocupações morais isoladas na abstração. Ao contrário, elas descrevem os padrões de negócios da empresa em termos integrados: elas combinam o compromisso moral pessoal da administração com os objetivos econômicos e os valores culturais. Do ponto de vista prático de como um executivo realmente pensa, “ser honesto”, “se divertir”, “ser inovador” e “obter um retorno sobre investimento do mais alto nível” são todas expressões relacionadas entre si.
Tal estado de espírito pode ser chamado de filosofia ou simplesmente “fundamentos”. O que tudo isso expressa são os compromissos que os executivos sentem serem possíveis ou impossíveis para si próprios e para sua empresa. À medida que os acionistas tornam-se mais agressivos nas suas expectativas, e o local de trabalho se diversifica mais, a articulação desses compromissos com antecedência torna-se cada vez mais importante.
Muitos dos presidentes de empresa citados neste livro acham que oferecer uma liderança visível e direta, ao articular qual é “a razão de ser da empresa”, através de um credo ou de uma declaração de missão, é uma responsabilidade fundamental da administração. Outros acham que tais valores deveriam ser comunicados informalmente. Independentemente da forma que assuma, a exploração sistemática daqueles valores, objetivos e resultados que descrevem “a razão de ser da empresa” ou “quem ela é” é o primeiro passo para dar aos dilemas morais da empresa uma solução responsável.

DANDO O PRIMEIRO PASSO

Depois de defender a aplicação do senso pessoal de ética nas questões problemáticas dos negócios, é útil articular as características gerais que definem a administração “ética” e “responsável”, para fundamentar desde o início a discussão. John L. Casey, diretor administrativo da Scudder, Stevens & Clark, escreveu um excelente livro sobre questões éticas para o gerente financeiro. [John L. Casey. Ethics in The Financial Marketplace. (New York: Scudder, Stevens & Clark, 1988.)] No início do livro ele observa que a palavra ética pode, por si só, ser um “engodo”. Com isso, concordariam vários executivos que já buscaram um título interessante para um seminário sobre ética nos negócios. Outras palavras para moralidade nos negócios são igualmente problemáticas. Como um eco da antiga nobreza, a agora clássica descrição de administração de Chester Barnard, As Funções do Executivo, fala da moralidade do gerente eficaz em termos como previdência, propósitos duradouros e ideais elevados. (Barnard. The Functions of the Executive, p. 282.)
A meu ver, o termo mais útil para descrever a tomada de decisão ética não é a ética nos negócios, mas, sim, a integridade nos negócios. Don Seibert, da J. C. Penney, utiliza-o no título de seu livro sobre ética nos negócios. Os professores de administração Joseph Badaracco e Richard Ellsworth proclamam que a integridade é a responsabilidade última da liderança empresarial; Tom Peters cita a integridade como condição essencial e última da administração da mudança. (Donald V. Seibert e William Proctor. The Ethical Executive. (New York: Cornerstone Library, 1984); Joseph L. Badaracco, Jr e Richard R. Ellsworth. Leadership and the Quest for Integrity. (Boston: Harvard Business School Press, 1989); e Tom Peters. Thriving on Chaos. (New York: Harper & Row, 1987), pp. 45-46.) Quase todos os documentos sobre ética nos negócios citam a integridade como componente essencial da boa prática dos negócios.
O que significa integridade? O que ela descreve? Em nossa sociedade pluralista e individualista, esse é um conceito problemático, semítico, ou existe um conjunto de valores tradicionais que as pessoas em geral utilizam para descrever o comportamento ético? O ex-presidente da Johnson & Johnson, James Burke, tem proclamado frequentemente que o Credo da empresa descreve “o denominador comum” no qual todos podem acreditar. Ele está certo? Existe um acordo sem controvérsias sobre ideais morais ou um executivo deve recorrer a definições filosóficas fortemente fundamentadas para analisar a ética e a administração?
Pesquisei os valores pessoais de, literalmente, milhares de executivos de todos os níveis e descobri que Burke, sem dúvida, está certo. Existem determinados valores que movem o idealismo das pessoas com regularidade inexorável. “O que o move?” — perguntei aos executivos. “O que é indispensável para a sua vida, para que você ainda seja capaz de se olhar no espelho?” Com pouca variação, eles expressaram o mesmo conjunto de valores:
Honestidade
Integridade
Credibilidade
Respeito pelos outros
Respeito próprio
Família
Realização
Confiabilidade
Justiça
Lealdade

Amor, religião e trabalho duro também são citados com regularidade, quando não com unanimidade.
Com exceção, talvez, de ser limpo e alegre, a lista acima parece muito com a lei dos Escoteiros ou com o Teste Quádruplo de Herbert R. Taylor, que foi adotado pelo Rotary Club. (O Teste Qudrup1o do Rotary diz: 1. Isso é a VERDADE? 2. Isso é JUSTO para todos os envolvidos? 3. Isso vai construir a BOA VONTADE e MELHORES AMIZADES? 4. Isso será BENÉFICO para todos os envolvidos?) E esse é o ponto. Não são conceitos místicos, mas parte de nossas descrições diárias e de bom senso do que constitui a integridade pessoal. Quando faço a mesma pergunta a grupos de estudantes, a maioria esmagadora cita os mesmos valores como ideais. (Minha experiência é que, apesar de muita evidência em contrário em termos de comportamento, poucas pessoas colocam ganhar dinheiro e posses materiais em uma lista de valores ideais. Por outro lado, pesquisas anuais do Conselho de Educação Superior revelaram que os universitários não hesitam em citar o materialismo ou a ambição na carreira como um de seus principais objetivos pragmáticos).
Por outro lado, a concordância sobre os ideais não significa concordância sobre sua aplicação. O aborto, por exemplo, pode ou não ser considerado um ato de justiça, amor ou respeito pelos outros. O trabalho duro, quando em excesso, pode ser considerado como danoso à família, muito embora sua intenção seja a expressão de um compromisso. A honestidade à custa de carreira pode ou não ser vista como uma barganha aceitável.
Mas é importante notar que, apesar de não haver acordo nas aplicações específicas, os termos têm significado. O idealismo ético não é totalmente relativo, mesmo em uma América pluralista. Os diversos grupos que pesquisei nunca sugeriram que seus ideais éticos centralizavam-se, digamos, no hedonismo sádico, na exploração desenfreada ou na discriminação violenta. Muito embora tais valores, às vezes, influenciem o pensamento gerencial, eles não são aclamados como atos de integridade.

MARCAS DA INTEGRIDADE NOS NEGÓCIOS

Nessas bases, é possível usar essa lista de valores como ponto de partida de minha discussão. Depois de ter trabalhado com cerca de duzentos códigos de ética corporativa reunidos pela Business Roundtable, depois de entrevistas com, literalmente, milhares de executivos, após analisar artigos pró e contra as empresas na imprensa em geral, eu sugeriria que, de forma geral, os mesmos padrões de decência conduzem as definições de nossa sociedade para a integridade nos negócios. Assim sendo, uma descrição geral da integridade nos negócios compreenderia os seguintes valores básicos.
      Honestidade — precisão ao avaliar e representar a empresa e qualquer atividade relevante para ela.
      Confiabilidade — ser consistente nas ações com os valores que se defende. Isso implica desde cumprir consistentemente as alegações do seu produto até punir os empregados que não honram os padrões que você alega serem integrantes da empresa.
      Justiça — equilibrar os direitos dos diversos grupos com consistência e boa vontade. Embora as empresas divirjam fortemente quanto aos limites de sua responsabilidade para com seus parceiros em relacionamentos não-comerciais, parece haver mais consenso sobre as manifestações comerciais da ética: justiça significa adotar uma ética que não tenda totalmente nem para o comprador nem para o vendedor. Em vez de assumir responsabilidade exclusiva por todo resultado não previsto de uma transação, o vendedor aceita a responsabilidade de manter as promessas específicas feitas clara ou implicitamente aos clientes e empregados.
      Pragmatismo — dar contribuições concretas para a contínua saúde financeira e organizacional da empresa.
Essas quatro marcas da integridade nos negócios cobrem uma abundância de assuntos éticos dentro do bom senso. As três primeiras previnem a falsidade, o dano intencional, o favoritismo, o conflito de interesses e a recusa de responsabilidade pelos erros. A última evita todas as formas de crime do colarinho branco, ineficiência e desperdício. Também evita a filantropia desenfreada e, a meu ver, implica alta qualidade, pois não há uma empresa no mundo que possa comercializar a má qualidade sem comprometer sua honestidade. Mesmo que não haja dano envolvido, uma empresa que encobre ou ignora a má qualidade não tem opção a não ser mentir em sua apresentação ao público e aos acionistas, deixando, assim, automaticamente, de preencher as condições da integridade.
O mais importante é que a integridade é uma condição que exige que você aja como diz. No fundo, significa vivenciar o que se defende como certo. Significa que outras pessoas podem contar com você para manter padrões de honestidade, justiça e prudência financeira mesmo quando as coisas ficam difíceis.
Outro modo de entender o significado da integridade nos negócios é submeter suas opções e seus hábitos a dois testes:
1. Essas decisões contribuem para a boa reputação de uma empresa ou de um administrador?
2. Essas decisões promovem a confiança?
As duas questões estão, obviamente, inter-relacionadas. Juntas, descrevem o ponto de referência principal para criar negociações bem-sucedidas, a cooperação bem-sucedida e os mecanismos de investimento bem-sucedidos. Quando a exploração dos assuntos éticos começa a criar mais calor do que luz, as duas questões, reputação e criação de confiança, podem ajudar a colocar a discussão de volta nos trilhos.
Acima de tudo, as condições descritas nas duas questões e sugeridas como marcas da integridade nos negócios não são contrárias aos valores usados pelos executivos para definir a integridade pessoal. Como tal, sua criação constitui um primeiro passo para acabar com a ideia de que “a ética nos negócios é uma contradição de termos” que tem impedido tantas tentativas de alcançar a compreensão gerencial nessa área.

Referência
NASH, Laura L. Ética nas empresas: guia prático para soluções de problemas éticos nas empresas. Tradução: Kátia Aparecida Roque. São Paulo: Makron Books, 2001. ( 2º capítulo)

Texto indicado pela Professora Sueli Rodrigues













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